MARCAS E HISTÓRIAS: SUPERMAN


Jerry Siegel e Joe Shuster se conheceram no início da década de 1930 em Cleveland, cidade onde ambos estudavam. Colegas na Glenville High School, a dupla trabalhava no jornal estudantil local, o "Glenville Torch", e criavam histórias de ficção científica. O editor Hugo Gernsback, à época, já permitia que na revista Amazing Stories os leitores divulgassem seus endereços, para trocar correspondências. O termo "fanzine" sequer havia sido inventado quando Siegel e Shuster começaram a produzir em 1932 aquela que seria definida posteriormente como uma das primeiras publicações do gênero: Science Fiction: The Advance Guard of Future Civilization.[12][13]

No ano seguinte veio a surgir a primeira versão do personagem, então concebido como um vilão cujos poderes psíquicos foram usados para manipular outras pessoas e dominar a humanidade.[13] Com o término da revista, Siegel e Shuster passariam a se dedicar a outras atividades. Em 1933, as revistas em quadrinhos dos Estados Unidos ainda não eram tão populares, e seu conteúdo era baseado nas tiras de jornal então publicadas. Siegel reescreveu "Superman" como um herói, distinto do vilão criado no ano anterior. Intitula The Superman, a primeira história desse novo personagem foi oferecida a "Consolidated Books Publishing", mas a editora decidiu deixar de publicar histórias em quadrinhos pouco após receber a proposta. Frustrado, Shuster ateou fogo sobre o material produzido. Dessa história resta apenas uma única página, a capa.[12]

Nos anos seguintes o personagem passaria por uma série de reformulações nas mãos dos dois autores, que passariam a oferecê-lo a diversas empresas, sempre com resultados negativos,[14] até que em 1938 a " National Periodical Publications" — com quem os dois já haviam trabalhado anteriormente, tendo sido os responsáveis por uma das história publicadas na primeira edição de Detective Comics, criando o detetive Slam Bradley — os convidou para contribuir com um novo personagem para a mais recente publicação da National. Mostraram Superman para apreciação, e uma vez aprovado, passaram a recortar e colar as tiras de jornal da amostra que tinha preparado no formato de páginas de uma revista em quadrinho.[15][16][12]

1938-1955: Publicação inicial e popularidade

A primeira aparição do Superman foi em Action Comics #1, em 1938. Já naquele momento, as histórias do personagem se mostraram um sucesso, com a tiragem de 200 mil exemplares[17] da revista esgotando-se rapidamente.[18] A partir de sua quarta edição, Action já começaria a apresentar um significativo aumento em suas vendas, em comparação com os demais títulos da editora: entre 1938 e 1939, já possuía uma tiragem de mais de 500 mil exemplares. O sucesso levou, em 1939, a criação de uma segunda revista dedicada às histórias do personagem, a homônima Superman.[19] A primeira edição consistiu principalmente de aventuras já publicadas em Action Comics, mas apesar disso a revista atingiu grande vendagem. 1939 também foi publicado na especial New York World's Fair Comics, que no verão de 1942 virou World's Finest Comics. Com a edição de All Star Comics, Superman fez sua primeira de um número infrequente de aparições, nesta ocasião aparecendo brevemente para estabelecer-se como membro honorário da Sociedade de Justiça da América.

Inicialmente Jerry Siegel e Joe Shuster queriam ser responsáveis por toda história e arte de todas as tiras publicadas. Entretando, a visão de Shuster começou a deteriorar-se, e o aumento das aparições da personagem implicou numa sobrecarga de trabalho. Isso fez com que Shuster estabelecesse um estúdio para ajudar na produção da arte embora ele insistisse em desenhar o rosto de todo Superman que o estúdio produzia. Fora do estúdio, Jack Burnley começou fazendo capas e histórias em 1940. Wayne Boring, inicialmente empregado no estúdio de Shuster, começou trabalhando para DC em 1942 fazendo páginas para Superman e Action Comics.

1956-1970: Expansão da mitologia na "Era de Prata"

A publicação de Action Comics #1 marcou o início da "Era de Ouro" das histórias em quadrinhos americanas.[20] A "Era de Ouro" compreenderia o material produzido entre o final da década de 1930 e o final da década seguinte, aproximadamente. Alguns dos mais conhecidos super-heróis foram criados nesse período — além de Superman, BatmanMulher MaravilhaCapitão Marvel e Capitão América. Posteriormente, as revistas tornaram-se um divertimento barato, quase descartável, que se tornaria bastante popular entre a população, particularmente com as tropas durante a Segunda Guerra Mundial.[21]

Na 123ª edição da revista The Flash foi publicada a emblemática história "Flash of Two Worlds", onde Barry Allen e Jay Garrick, os dois heróis que até então já haviam adotado a alcunha de "Flash", se encontraram. As histórias de Garrick haviam sido publicadas na década de 1940, mas com o declínio da popularidade dos quadrinhos, diversas revistas, incluindo a Flash Comics protagonizada pelo herói, acabariam canceladas. Somente a partir de 1956 que o gênero retomo sua popularidade, a partir da publicação de Showcase #4, onde uma versão modernizada do Flash surgiria.[22][23][24]

Flash of Two Worlds juntou os dois personagens, estabelecendo o "Multiverso DC", uma representação ficcional da interpretação da mecânica quântica que propõe a existência de universos paralelos. Se o surgimento do Flash havia dado início à "Era de Prata dos quadrinhos", a história de 1961 estabeleceria que os personagens surgidos durante a "Era de Ouro" (entre 1938 e 1950), bem como as histórias por eles protagonizadas, pertenceriam a um universo paralelo denominado Terra 2, distinto daquele em que ocorriam as histórias publicadas pela editora durante a década de 1960.[23][24]

Superman era um dos três únicos heróis cujas histórias vinham sendo publicadas ininterruptamente desde a Era de Ouro,[25] e era preciso esclarecer quais histórias pertenceriam ao cânone estabelecido. Em 1969, ficou decidido que o personagem surgido em Action Comics #1 era Kal-L, o Superman da Terra 2, um personagem distinto, que coexistia com o "Superman da Terra 1", personagem que protagonizava as histórias publicadas durante a década de 1960. Enquanto o "Superman da Terra 1" fazia parte da Liga da Justiça, sua contraparte da Terra 2 fazia parte da Sociedade da Justiça, uma equipe formada por outros heróis da Era de Ouro.[26]

1970-1988: Amadurecimento e revisionismo

É comumente aceito que a "Era de Prata" das histórias em quadrinhos americanas foi sucedida pela "Era de Bronze".[27] O marco de transição entre um período e o outro, entretanto, não é claro, e existem diversas possibilidades tanto para o término de uma quanto para o início da outra.[28] O pesquisador Arnold T. Blumberg acredita que a transição entre os dois períodos foi gradual, se estendendo desde o final da década de 1960 até 1973, quando foi publicada pela Marvel Comics a história The Night Gwen Stacy Died - o ápice de um ideal que vários profissionais vinham defendendo naquele período de transição: abordar temas mais maduros, ainda que estes estivessem sendo "filtrados" pela "lente simplista dos super-heróis".[29] Nessa transição, um evento da história de Superman é citado como um possível marco para o início da "Era de Bronze": a aposentadoria de Mort Weisinger.[28] Weisinger fora o editor das revistas do personagem por anos, durante a "Era de Prata"[30] e seria eventualmente substituído por Julius Schwartz.[31] Para Levi Trindade, "a Era de Bronze manteve muitas das convenções comumente associadas à Era de Prata, com super-heróis trajando uniformes extremamente coloridos (...) porém, roteiros contendo elementos mais sombrios e narrativas maduras (...) começaram a surgir", e Must There Be a Superman?, uma história de 1972, seria um exemplo desse amadurecimento.[32]

Após a aposentadoria de Weisinger, o publisher da editora, Carmine Infantino convidaria Julius Schwartz para substituí-lo como editor da revista Superman, mas este recusaria o convite, por acreditar que não havia como contribuir significativamente para a história do personagem, que já havia se estabilizado criativamente. Infantino, então, convidou Schwartz a identificar os pontos em que o personagem havia "estagnado" e mudá-los, e ele apontou sua vontade de alterar desde o visual do personagem, fazendo com que os futuros desenhistas incluíssem roupas diferentes do paletó usualmente utilizado por Clark Kent, até características significativas, como a própria profissão de Kent, que Schwartz acreditava deveria um ser telejornalista.[30]

Após a editora ter autorizado as mudanças, Schwartz começou a trabalhar na reformulação que pretendia executar, reunindo aqueles que acreditava ser os melhores profissionais do mercado: o renomado escritor Denny O'Neil seria o roteirista, Neal Adams seria o artista responsável pelas capas da revista e Murphy Anderson trabalharia como arte-finalista dos desenhos de Curt Swan, que continuaria como o artista principal da revista.[33] Cerca de um ano após ter tomado a frente dos roteiros de Superman, e insatisfeito com o que via como a sua "incapacidade de fazer jus" ao personagem em seus roteiros, Denny O'Neil decidiria se desligar da revista.[33] Schwartz, então, começaria a trabalhar com alguns escritores que, embora menos experientes, não foram menos inventivos de O'Neil. Dentre os sucessores do popular escritor estão Cary Bates, Elliot S! Maggin e Martin Pasko.[34] Bates contribuiria em uma série de histórias, substituindo O'Neil a partir de Superman #243, ignorando as alterações anteriormente realizadas[35] e, entre Action Comics 480 e 483 escreveria uma série de confrontos entre Superman e o vilão Amazo.[36] Suas histórias são vistas como a representação do personagem na "Era de Bronze": um herói experiente, mas que não age como "escoteiro".[37] Maggin, por sua vez, contribuiria com uma das mais significativas histórias do personagem: Must There Be a Superman?, publicada em Superman #247, se tornou conhecida por sua dramaticidade, ao colocar o personagem se questionando se suas ações tinham um efeito positivo sobre a humanidade, ou se ele já estava intervindo de tal forma que as pessoas estavam começando a se tornar dependentes de sua ajuda.[34]

Na década de 1980, o "multiverso" estabelecido na "Era de Prata" acabaria se revelando um conceito excessivamente confuso: inúmeros universos paralelos além dos dois iniciais foram surgindo nos anos seguintes, confundindo e afastando leitores. Frente esta situação, a DC Comics decidiu que era preciso "unificar" todas as suas publicações sob um único universo coeso e compartilhado. Mas, para poder renovar os personagens, era preciso encerrar tudo que vinha sendo publicado. Aproveitando que 1985 marcaria o 50º aniversário da editora, decidiu-se pelo lançamento de "Crise nas Infinitas Terras", uma minissérie em 12 edições que causaria a destruição de todas as "terras paralelas", encerrando a continuidade e estabelecendo uma nova, revitalizada história ao mesmo tempo em relançava todo o universo de personagens da DC Comics. É a partir desse ponto que começou o trabalho de John Byrne com o personagem, escrevendo e ilustrando quase uma centena de histórias entre 1986 e 1988.[38][39]

1989-1999: Morte, Retorno, casamento e a influência de John Byrne

 Ver artigo principal: A Morte do Super-Homem

O trabalho desenvolvido por Byrne e pelos profissionais que o acompanharam influenciaram as histórias do personagem por mais de uma década[40][41]

Devido à queda das vendas da revista do Super-Homem, foi levada a cabo uma ideia para a sua recuperação e decidiu-se mostrar ao mundo como ele seria sem o Super-Homem. A partir dessa premissa, foi lançado em 1992 a história A Morte do Super-Homem, onde Super-Homem enfrenta Apocalypse, uma criatura virtualmente indestrutível. A batalha final decorreu nas ruas de Metrópolis em que como desfecho final, Apocalypse morre e Superman é declarado como morto, retornando em Superman o Retorno, onde a população inteira vê que ele não morreu.

1999-2010: Retorno aos valores e à mitologia da "Era de Prata"

No final da década de 1990, quando Eddie Berganza assumiu as funções de editor responsável pelas histórias de Superman, as quatro revistas então protagonizadas pelo personagem - Action ComicsSupermanAdventures of Superman e Superman: The Man of Steel - vinham passando por baixas vendas, e suas histórias tinham pouca repercussão junto ao público.[42]

2011: Os Novos 52

No início da década de 2010, a DC Comics decidiu relançar toda sua linha de quadrinhos, e reformulou todos seus heróis e suas origens, inclusive o Superman. Nessa nova versão do herói, os pais dele são mortos por um motorista bêbado, e ele não é casado com Lois Lane. Em meados de 2015, durante o lançamento da linha DC YOU (ou DC e Você), a identidade do herói foi revelada nos quadrinhos. Na versão dos Novos 52, o Superman tem um relacionamento amoroso com a Mulher-Maravilha (Diana Prince). O relacionamento dos dois fez com que o casal ganhasse uma revista best-seller em que ambos eram protagonistas.

2016: Renascimento

Em 2016, a DC Comics decidiu relançar novamente toda sua linha de quadrinhos. Nessa fase do Rebirth, a versão do Superman dos Novos 52 acaba morrendo, e o Superman Pré-Flashpoint acaba assumindo seu lugar. Nessa nova fase da DC Comics (conhecida como DC Rebirth e Renascimento), o Superman é casado com Lois Lane, e eles possuem um filho, que herdou os poderes kryptonianos do pai.

Superman no Brasil

Ver artigo principal: Publicação de Superman no Brasil

Superman apareceu no Brasil pela primeira vez em Dezembro de 1938, no suplemento chamado A Gazetinha #445,[64] do jornal A Gazeta de propriedade do jornalista Cásper Líbero.[65] Com os direitos adquiridos por Adolfo Aizen, as aventuras do Homem de Aço passam para a lendária revista "O Lobinho".[66]

Com a criação da EBAL em 1945, o editor Aizen lança as histórias da personagem em uma revista em quadrinhos chamada Superman. A revista foi publicada por 35 anos, de 1947 até 1983, um recorde do gênero. Não conseguindo manter mais os direitos, a EBAL repassou a personagem para a Editora Abril, que seguiu com as publicações até a virada do milênio.[67] Desde 2002, as histórias de Superman são publicadas pela Panini Comics.[68]

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