MARCAS E HISTÓRIAS: LACTA
Em 1912, no bairro da Vila Mariana em São Paulo, um grupo liderado pelo cônsul suíço Achilles Isella, que havia desembarcado no Brasil em 1891 vindo da Argentina, criou a Societé Anonyme des Chocolats Suisses de S. Paulo, com o objetivo de fabricar chocolates no Brasil.
O grupo fundador, do qual faziam parte três industriais—um professor, um comerciante, um engenheiro e um arquiteto, todos com sobrenomes estrangeiros (Isella, Rapp, Hottinger, Ritter, Kesserling, Reinmann e Streiff)—havia importado diversas máquinas da Alemanha e da Suíça, e adquirido um amplo galpão na rua José Antônio Coelho, na Vila Mariana. Perto dali, na rua Domingos de Moraes, o grupo montou uma loja para a venda dos chocolates que fabricava em forma de meialua, conhecidos como Chocoleite. A loja foi batizada como A Suíça, apesar de vender chocolates feitos no Brasil.
Com o início da Primeira Guerra Mundial, a importação de chocolates e de muitos outros produtos ficou bastante prejudicada. Os importados começaram a chegar com valores tão elevados que muitos empresários viram na mudança de cenário uma oportunidade para a conquista de novos mercados: se não havia como importar chocolates, a saída seria fabricá-los. Foi nesse momento que Zanotta e seu sócio Lorenzi compraram a fábrica do cônsul suíço, que estava à venda. O próximo passo foi adquirir o registro da marca Lacta da Poulain, em 1917.
No mesmo ano, Lacta já apareceu no primeiro anúncio luminoso da cidade, atravessando a rua XV de Novembro, no movimentado trecho entre o Largo do Tesouro e a rua Anchieta.
Em 1925, um incêndio destruiu toda a fábrica da Lacta na rua José Antônio Coelho, o que provocou a ausência dos produtos da marca no mercado durante um ano. Em outubro de 1929, um novo tropeço—desta vez provocado pela quebra da bolsa de Nova York—atingiu em cheio os exportadores de café, que de um dia para o outro viram o preço do produto despencar. Com a economia fortemente atrelada ao café, as indústrias não tardaram a sentir o tranco da recessão mundial. A Zanotta, Lorenzi & Cia. foi forçada a entrar com um pedido de concordata em 1930, da qual saiu em 1933, conseguindo manter o mercado aberto para seus dois carros-chefes: o Guaraná Espumante e o Chocolate Lacta, que nessa altura já era uma marca bastante conhecida pelos consumidores.
Nos anos 1930, uma nova guerra se anunciava na Europa com a ascensão do nazi-fascismo na Alemanha, Espanha e Itália. Além disso, o cenário econômico mundial se preparava para tempos difíceis. No Brasil, a Zanotta, Lorenzi & Cia. encarava a forte concorrência que o Guaraná Espumante sofria do seu rival Guaraná Champanhe Antárctica, lançado em 1921 pela cervejaria de mesmo nome. Sem recursos para manter a disputa, declararam falência em 1937. No ano seguinte, o grupo Diários Associados, do jornalista e empresário Assis Chateaubriand, assumiu o controle da empresa. A Lacta, fabricante brasileira de chocolates conhecida por marcas e produtos de sucesso, também foi de propriedade de Ademar de Barros (empresário e influente político brasileiro entre as décadas de 1930 e 1960). Foi prefeito da cidade de São Paulo (1957 — 1961), interventor federal (1938 — 1941) e duas vezes governador de São Paulo (1947 — 1951 e 1963 — 1966).
Após sua morte, a gestão da empresa passou a seu filho, o também político Ademar de Barros Filho. Em 1996, após brigas entre a família, a empresa foi vendida à Kraft Foods.
Em agosto de 2012, a Kraft anunciou que iria dividir os negócios em dois. A nova Mondelez abrigaria o negócio de guloseimas, avaliado em 31 bilhões de dólares, reunindo marcas globais como Cadbury (chocolates) e Ritz (biscoitos). Uma outra companhia manteria o logo da Kraft Foods e ficaria responsável pelos atuais 17 bilhões referentes às marcas vendidas em supermercados americanos, como os queijos Kraft.
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