MARCAS E HISTÓRIAS: GLOBO

Acordo com a Time-Life e início das operações

Em 5 de janeiro de 1951, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra, a Rádio Globo requereu sua primeira concessão de televisão.[19] O requerimento foi analisado pela Comissão Técnica de Rádio, que emitiu um parecer favorável à concessão, aprovada pelo governo dois meses depois, no dia 13 de março.[19] A essa altura, porém, o país tinha um novo presidente, Getúlio Vargas.[19] Dois anos depois, em janeiro de 1953, contrariando o parecer da Comissão Técnica, Vargas voltou atrás e revogou a concessão.[19] Foi somente em julho de 1957, que o então presidente Juscelino Kubitschek aprovou a concessão de TV para a Rádio Globo e, em 30 de dezembro do mesmo ano, o Conselho Nacional de Telecomunicações publicou um decreto concedendo o canal 4 do Rio de Janeiro à TV Globo Ltda.[19]

Em 1962, um acordo assinado entre a Time-Life e o Grupo Globo proporcionou a Roberto Marinho o acesso a um capital de trezentos milhões de cruzeiros (seis milhões de dólares, segundo o documentário Beyond Citizen Kane),[23] o que lhe garantiu recursos para comprar equipamentos e infraestrutura para a Globo.[24]

No final de 1964 foram apresentadas à imprensa as primeiras instalações da emissora. Em plena ditadura militar, seu primeiro diretor de programação foi o capitão Abdon Torres, que garantiu aos jornalistas que quando a emissora entrasse no ar, a maioria dos programas já estariam prontos, gravados em videofita. A responsabilidade pela construção das instalações foi de três engenheiros, liderados pelo general Lauro de Medeiros. Seriam três estúdios, um auditório com quatrocentos lugares e outras dependências. Exceto o auditório no segundo andar, o público não teria acesso a nenhuma outra dependência. Os produtores Haroldo Costa e Domingos de Oliveira já tinham os planos prontos para vários programas, enquanto o diretor Graça Mello já havia selecionado dezenas de atores, apresentadores e locutores. Com essa estrutura, a emissora buscava ser a primeira em organização, dentre as demais no Rio de Janeiro.[25]

TV Tupi, na época a maior emissora do país, havia sido montada com um capital de trezentos mil dólares.[23] O acordo foi questionado em 1965 por deputados federais na CPI da TV Globo, pois seria ilegal segundo o artigo 160 da Constituição da época, que proibia a participação de capital estrangeiro na gestão ou propriedade de empresas de comunicação.[23][24] Segundo Marinho, o acordo previa apenas a assessoria técnica da Time-Life.[24] A CPI terminou com parecer desfavorável à emissora, mas em outubro de 1967 o consultor-geral da República Adroaldo Mesquita da Costa emitiu um parecer considerando que não havia uma sociedade entre as duas empresas.[24] Com isso, a situação da TV Globo foi oficialmente legalizada.[24] Mesmo assim, Marinho resolveu encerrar o contrato com a Time-Life, ressarcindo o grupo através de empréstimos tomados em bancos nacionais e pondo fim ao acordo em julho de 1971.[24]

Fundação

A TV Globo foi oficialmente fundada no dia 26 de abril de 1965 às 10:45, com a transmissão do programa infantil Uni Duni Tê.[26] Também estavam na programação dos primeiros dias a série infantil Capitão Furacão e o telejornal Tele Globo, embrião do atual Jornal Nacional. Os primeiros oito meses da TV Globo foram um fracasso, o que levou à contratação de Walter Clark, na época com 29 anos, para o cargo de diretor-geral da emissora.[23] Clark foi um dos grandes responsáveis pelo sucesso da emissora.[23] Em janeiro de 1966, o Rio de Janeiro sofreu uma das suas piores inundações; mais de cem pessoas morreram e aproximadamente vinte mil ficaram desabrigadas. A cobertura da tragédia feita ao vivo pela TV Globo foi um marco na história da emissora,[23] que fez sua primeira campanha comunitária, centralizando a arrecadação de doações em dois de seus estúdios. Nessa altura, a transmissão das imagens ainda era em preto e branco.[27] Ainda naquele ano, a Globo chegou ao estado de São Paulo[28] com a aquisição do canal 5 que, desde 1952, funcionava como a TV Paulista, de propriedade das Organizações Victor Costa. Em 5 de fevereiro de 1968, foi inaugurada a terceira emissora, em Belo Horizonte, e as retransmissoras de Juiz de Fora e de Conselheiro Lafaiete, além de um link de micro-ondas que ligava o Rio de Janeiro a São Paulo.

Roberto Marinho no início da carreira.

Foi nessa época que o governo federal, liderado pelo marechal Costa e Silva, deu prioridade ao desenvolvimento de um moderno sistema de telecomunicações, criando o Ministério das Comunicações e concedendo à população uma linha de crédito para a compra de televisores.[23] Outro impulso foi um decreto elaborado pelo ministro Delfim Neto que isentou as empresas de rádio e televisão de imposto de importação sobre equipamentos, isto permitiu à empresa se renovar e ao mesmo tempo utilizar a cotação oficial do dólar para reduzir suas despesas de importação.[29] Além disso, com o advento do videoteipe, a produção de programais locais foi logo se tornando escassa, sendo a maior parte da programação produzida no Rio de Janeiro e em São Paulo, o que impulsionou as grandes emissoras dessas cidades a formarem redes nacionais.[23] É nesse cenário que se dá o início da TV Globo como uma rede de emissoras afiliadas em 1° de setembro de 1969, quando entrou no ar o Jornal Nacional, primeiro telejornal em rede nacional,[23] ainda hoje transmitido pela emissora e líder de audiência no horário.[26] O primeiro programa foi apresentado por Hilton Gomes e Cid Moreira. Naquele mesmo ano, a Globo realizou sua primeira transmissão via satélite, ao exibir, de Roma, entrevista de Gomes com o Papa Paulo VI.[30] No ano seguinte, durante a Copa do Mundo FIFA de 1970, no México, a emissora recebeu sinais experimentais em cores da Embratel.[30] Dois anos depois, durante a exibição da Festa da Uva de Caxias do Sul, ocorreu a primeira transmissão oficial em cores da televisão brasileira.[30] Com três emissoras em 1969 (Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte), em 1973 já eram onze.[29]

Em 28 de abril de 1974, o Jornal Nacional passou a ser transmitido em cores, três dias após ter iniciado suas coberturas internacionais pela Revolução dos Cravos. No mesmo ano, é transmitido o primeiro especial de fim de ano do cantor Roberto Carlos, ainda hoje uma tradição na emissora.[30] Em 1975, a TV Globo passou a exibir boa parte de sua programação simultaneamente para todo o país, consolidando-se como rede de televisão.[30] A partir desse momento, começou a construir o que ficaria conhecido como Padrão Globo de Qualidade. O horário nobre passou a preenchido com duas telenovelas de temática leve entre dois telejornais curtos e sintéticos (Praça TV e Jornal Nacional), uma telenovela de produção nobre e com enredo mais forte, que seria chamada a partir de então de "novela das oito" e a partir das 22h uma linha de séries, minisséries, filmes ou e/ou Globo Repórter. A estrutura de grade fixa é utilizada pela Globo até os dias de hoje.[31][32][33]

Expansão e liderança de audiência

Nesse período, a Rede Globo enfrentou dificuldades à sua expansão.[19] O regime militar negou ao grupo de Roberto Marinho pedidos para concessões de canais nas cidades de João Pessoa (PB) e Curitiba (PR).[19] A emissora aponta isso como uma evidência de que fazia um jornalismo independente que às vezes se chocava com os interesses do governo e de que não obteve favores do regime.[19] No entanto, uma passagem do livro Dossiê Geisel, uma compilação de papéis do arquivo pessoal do ex-presidente Ernesto Geisel, traz outra versão para a recusa do governo militar em conceder mais dois canais para o Grupo Globo.[34] O regime teria começado a ficar preocupado com a monopolização do setor de telecomunicações pelo grupo de Roberto Marinho e tentou evitar que a empresa crescesse mais ainda.[34] As emissoras próprias da Rede Globo haviam sido compradas de particulares: em São Paulo e em Recife das Organizações Victor Costa e em Belo Horizonte de João Batista do Amaral.[19] Até hoje as demais emissoras que compõem a rede são afiliadas, ou seja, são associadas, mas não são de propriedade do Grupo Globo.[19]

O apresentador William Bonner e a recém-eleita presidente Dilma Rousseff em entrevista para o Jornal Nacional.

Em 1976, a emissora exportou suas primeiras telenovelas.[30] Em 1977, toda a programação da emissora passou a ser em cores, antes restrita a telenovelas e telejornais.[30] Nesse mesmo ano, Walter Clark foi substituído por Boni no cargo de diretor-geral.[23] Em 1979, a Globo começou a desenvolver a tecnologia de efeitos especiais digitais.[30] Em 1982, a emissora implantou a transmissão via satélite.[30] Nos anos 1980, a Rede Globo consolida-se na liderança da audiência com telenovelas e minisséries como Vereda TropicalO Tempo e o VentoO Pagador de Promessas e O Salvador da Pátria. Em 1990, no entanto, enfrenta, pela primeira e única vez, desde o fim da Rede Tupi, concorrência na teledramaturgia com o sucesso da telenovela Pantanal da Rede Manchete.[35] Nos anos 1990, a Globo realizou as primeiras experiências interativas da televisão no Fantástico e no Você Decide, e obtém novos recordes de audiência com as telenovelas Mulheres de AreiaA Viagem e A Próxima Vítima.[30]

Desde o início dos anos 2000, apesar de sucessos como Mulheres ApaixonadasSenhora do DestinoAlma Gêmea e Da Cor do Pecado,[30] a Globo registra constantes quedas em sua audiência. O aumento da renda provocou mudanças nos hábitos de consumo dos brasileiros no que diz respeito à televisão.[22] As pessoas saem mais de casa e migram, ainda que de modo ligeiro, para a televisão por assinatura.[22] Além disso, a internet tem atraído parte do público antes cativo das emissoras de televisão aberta.[22] A média de audiência da Rede Globo caiu de 56% em 2004 para 42% em 2013 na Região Metropolitana de São Paulo,[22] principal mercado para os anunciantes. Ainda assim, a participação das emissoras em publicidade cresceu em 2012 e atingiu 65% do total de um montante de 19,5 bilhões de reais.[22] Estima-se que a Rede Globo e suas afiliadas ficaram com 80% do valor, devido, em parte, ao sucesso das telenovelas Cheias de Charme e Avenida Brasil.[22] Além disso, a verba publicitária do governo federal investida na emissora subiu de 370 milhões de reais em 2000 para 495 milhões em 2012.[22]

Teledramaturgia

Reprodução do rio Ganges para a telenovela Caminho das Índias na cidade cenográfica do Projac (hoje Estúdios Globo), no Rio de Janeiro, o maior complexo televisivo da América Latina.[20]

Ao todo, a Rede Globo possui em sua programação seis horários destinados a telenovelas: o primeiro é o Vale a Pena Ver de Novo, exibido na faixa da tarde e o segundo é a novela destinada ao público jovem: a soap opera Malhação, que é exibida no final da tarde. Logo após, segue o horário "das seis", que apresenta tramas com um enredo simples e romântico, sendo de época e/ou regional. Já o "das sete" costuma possuir folhetins mais cômicos, enquanto o "das nove" (anteriormente conhecido como "das oito") é o principal horário da teledramaturgia brasileira, ou ao menos, o de maior repercussão. E, finalmente, o horário "das dez/onze" é o mais tardio e, geralmente, apresenta obras mais pesadas e com temas fortes. Este último é o único na qual as novelas não são exibidas em sequência; pausas ocorrem entre uma produção e outra.[36][37] À parte disso, a emissora também produz minisséries.[38][39]

A primeira telenovela exibida pela Globo no horário das 20 horas foi O Ébrio, de José Castellar, em 1965.[40] Embora O Rei dos Ciganos, de Moysés Weltman,[41][42] e A Sombra de Rebecca, de Glória Magadan,[43] tenham sido exibidas no horário em 1966 e 1967, respectivamente, somente com a entrada de Janete Clair no roteiro de Anastácia, a Mulher sem Destino, originalmente de Emiliano Queiroz, que a estrutura que posteriormente se convencionaria como "novela das oito" se popularizou.[41][44] Desde O Ébrio até Passione em 2010, foram exibidas 74 produções que foram chamadas de "novela das oito", sendo que a partir de Insensato Coração em 2011, a emissora passou a denominar o produto como "novela das nove".[45][46] Também em 1965 foi lançado o horário das 19 horas, com Rosinha do Sobrado,[47] sendo exibidas 70 produções desde então.[47] No horário das 18 horas, a primeira telenovela transmitida foi Meu Pedacinho de Chão, de Benedito Ruy Barbosa, em 1971. Mais de 60 produções foram ao ar após esta.[48]

Entre 1965 e 1979, a Globo possuiu ainda um quarto horário (que passou a ser o quinto desde a estreia de Malhação em 1995) destinado à exibição de telenovelas, às 22h. A primeira produção exibida neste horário foi também a primeira telenovela a ser exibida pela emissora: Ilusões Perdidas, de Ênia Petri.[49] Sinal de Alerta, de Dias Gomes, foi a última telenovela a ser exibida no horário durante aquele período.[50][51] Em duas oportunidades o quarto horário foi "ressuscitado": Eu Prometo, de Janete Clair, foi exibida como "novela das dez" em 1983[52] e Araponga, de Dias Gomes, foi exibida em 1990 no horário das 21h30.[53] A partir de 2011, houve uma nova denominação de novela na Globo, a "novela das onze" que anteriormente era a "novela das dez", sendo então uma tentativa da emissora de aumentar o índice de audiência no horário ocupado até então por minisséries, seriados e outros programas. A primeira novela exibida na faixa foi O Astroremake da versão de 1977.[54]

A medição do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) na Grande São Paulo mostra que as novelas da Globo perderam, entre 2004 e 2008, 26,19% dos telespectadores,[55] embora a teledramaturgia da emissora ainda seja líder em audiência em seus horários de exibição.[56][57]

Produções em UHD e FUHD

Elenco de A Grande Família, a mais longa série de televisão brasileira.[58][59][60]

A partir de 2013, com a transmissão da novela Amor à Vida, a Globo começou a testar a tecnologia FUHD na produção da técnica chroma key. Como a novela era produzida nos Estúdios Globo, no Rio, e a trama era ambientada na cidade de São Paulo, para evitar posteriores gastos de produção, convinha a adoção do chroma.[61]

As tecnologias usadas na produção de Amor à Vida não foram exclusivas apenas da novela das nove, mas também estiveram presentes em outras produções da emissora, como nas séries Tapas e Beijos e A Grande Família e na novela das seis Joia Rara.[62] Atualmente o UHD é usado na produção do Domingão do Faustão aos domingos, sendo este o único programa ao vivo da televisão brasileira com 4K.[63]

Com a fundação do estúdio MG4 no lado B dos Estúdios Globo, a produção de conteúdos em UHD será integralmente realizada. A primeira trama a ser contemplada com a tecnologia foi a novela das nove Amor de Mãe, que começou a ser gravada em um amplo estúdio de 4,5 mil metros quadrados, em 2019. O investimento custou R$ 207 milhões de reais ao Grupo Globo.[64][65]

Acordo com a China Media Group

No dia 11 de novembro de 2019, o Grupo Globo fez um acordo com o maior grupo de mídia da China, a estatal China Media Group. O acordo prevê a cooperação mútua nas áreas de cinema, televisão, esporte, entretenimento, tecnologias 4K8K5G e outras.[66][67]

Quebra de acordo com a Federação de Futebol do Rio de Janeiro

No dia 2 de julho de 2020, após várias tentativas de acordos com o Flamengo, a Globo decidiu romper o contrato que previa a exibição dos jogos do Campeonato Carioca, por causa da violação dos direitos de exclusividade que mantinha. O imbróglio entre o time carioca e a emissora intensificou-se após a assinatura da Medida Provisória 984/2020 por Jair Bolsonaro, que determinou que o time mandante da partida fique com 100% do valor arrecadado dos direitos de transmissão.[68] No entender da administração da emissora, a violação ocorreu a partir do momento em que a FlaTV (streaming de vídeo do clube) exibiu uma partida ao vivo entre Flamengo e Boavista Sport Club. Pela parceria de anos com o futebol brasileiro, a Globo decidiu pagar os direitos de transmissão a todos os onze clubes que assinaram contrato com a emissora.[69] No dia 5 de julho, a Globo acatou a decisão judicial que a obrigava a transmitir a semifinal da Taça Rio entre Fluminense e Botafogo, porém decidiu acionar o seu departamento jurídico.[70]

Quebra de acordo com a Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL)

Em 6 de agosto de 2020, por causa da crise financeira potencializada pela pandemia de coronavírus, a Globo manifestou em nota, o interesse em rescindir o contrato com a CONMEBOL, que é o comitê responsável pela Copa Libertadores. Segundo a nota, houve uma tentativa de renegociação do contrato com o comitê, com validade até 2022, mas não se chegou a um acordo, e o câmbio do dólar ficou instável desde a assinatura. A Globo alegou que a situação foi agravada pelo efeito devastador da pandemia na economia, o que provocou um aumento no valor do contrato em quase R$ 100 milhões por ano. O valor pago pelos Canais Globo, foi de US$ 65 milhões de dólares (o equivalente a R$ 346 milhões de reais) para transmitir os jogos de futebol até 2022, tanto na TV aberta quanto na fechada.[71]

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