MARCAS E HISTÓRIAS: BATMAN

Oficialmente, o super-herói Batman foi criado em 1939, por Bob Kane, sob encomenda da DC Comics, a qual, na esteira do sucesso estrondoso do Superman, o primeiro super-herói da história dos quadrinhos, encomendou o novo super-herói. Bob Kane teria criado o visual e a ideia original de um super-herói sem poderes, um detetive, que trabalharia nas trevas, em histórias sombrias. Mas foi o roteirista Bill Finger quem deu o formato definitivo do personagem ao longo da década seguinte, definindo seu caráter, o estilo de suas histórias e personagens, assim como vilões e locais clássicos do universo do personagem.[12]

As histórias em quadrinhos eram, a princípio, mais sombrias, apresentando um Homem Morcego diferente do que conhecemos hoje, contudo, foram reformuladas para que fosse mais leves, logo, surge o personagem Robin, primeiro sidekick ou parceiro mirim de um super-herói de quadrinhos. Robin era uma criança alegre e multicolorida, para quebrar o clima muito sombrio das primeiras histórias. Ainda na década de 1940, criou-se a cidade fictícia de Gotham City, para ambientar as histórias do personagem e se permitir uma maior liberdade criativa, além de refletir o clima sombrio/noir de suas histórias.[12]

Ainda nessa fase chamada Era de Ouro dos Quadrinhos, o trio criativo do personagem, Kane, Finger e o arte-finalista Jerry Robinson, criou uma galeria de vilões formada por personagens geralmente sem superpoderes, marcados pela loucura e psicopatia. Assim, criou-se CoringaMulher-GatoPinguimDuas-CarasCharadaEspantalhoChapeleiro LoucoCara de Barro e Hugo Strange.

A ascensão da indústria de quadrinhos de super-heróis nos Estados Unidos esteve profundamente ligada ao ambiente provocado pela Segunda Guerra Mundial. Com o fim do conflito, a indústria caiu dramaticamente. Apenas Batman, SupermanMulher Maravilha e Capitão Marvel conseguiram continuar ininterruptamente a venda de suas revistas pelo período posterior. Batman e Superman foram se firmando como The World's FinestOs Melhores do Mundo. Começou assim a era dos encontros entre heróis e personagens de revistas diferentes, nascendo o conceito de Universo Editorial, no caso, o Universo DC, e a produção de crossovers.

Década de 1950 foi marcada por dois fatores decisivos: a Guerra Fria e a admiração e espanto do público em geral pela tecnologia, especialmente bélica e espacial. A Guerra Fria, a qual opôs os americanos capitalistas e a União Soviética socialista ocasionou uma perseguição, dentro dos Estados Unidos, a qualquer pessoa, instituição ou publicação que soasse comunista, e portanto, traidora dos valores americanos. Esse movimento, liderado pelo congressista McCarthy foi conhecido como Macartismo. As histórias em quadrinhos foram só mais um setor que foi pressionado e influenciado pelo Macartismo, o qual impôs que as histórias passassem a ser mais infantilizadas, simples, evitando qualquer assunto mais sério, polêmico ou de cunho social, pois se cria que comunistas poderiam estar semeando críticas e oposição ao capitalismo. Assim, nesse momento de infantilização forçada, surgiram personagens como Ace, o Bat-cão, o Bat-mirim e a Batwoman.

Paralelamente, o momento de avanços tecnológicos e científicos que o público assistia, espantado, influenciou profundamente o tipo de roteiros que se escrevia para os personagem nesta década. Super-heróis com poderes e origens com explicações pseudo científicas, como o Lanterna Verde Hal Jordan, e o Flash Barry Allen são dessa época, substituindo versões antigas e mágicas desses heróis. Essa nova geração, com um novo estilo de histórias, levou a uma "atualização" dos personagens antigos, como o próprio Batman, sendo que este novo personagem atualizado era um tanto diferente do original. Isto provocaria reverberações na década seguinte. O vilão criado nesse período que obteve maior destaque foi o Senhor Frio. O grande artista por trás das revistas do Cavaleiro das Trevas nesse período foi Dick Sprang.

As histórias do Batman prosseguiram neste estilo durante a Década de 1960. Data desse período a estreia de Hera Venenosa e do Superman Composto. Nessa década, Batman ganhou grande projeção devido à estreia e sucesso do clássico seriado cômico de televisão, estrelado por Adam West e Burt Ward. Por sinal, foi por exigência dos produtores do seriado, que se criou nos quadrinhos a segunda (e definitiva) versão da personagem Batgirl, além de se ressuscitar o personagem Alfred Pennyworth, morto nos quadrinhos há algum tempo. Um fato decisivo não só para o Cruzado de Capa, mas para todo Universo DC, foi a implementação do conceito de Multiverso. Como dito anteriormente, versões atualizadas de personagens antigos foram inseridas durante a Década de 1950. Na década seguinte decidiu-se que os personagens originais ainda existiriam, vivendo paralelamente aos atuais, de forma independente, como se houvesse várias versões do mesmo mundo e dos mesmos personagens. Assim, existia o Universo do Batman ativo, mas também um universo do "Batman original". Isso valeria até Crise nas Infinitas Terras, e seria trazido de volta após Crise Infinita.

Marvel Comics acabou influenciando profundamente novos rumos nos roteiros do personagem. As histórias mais adultas e caráter dúbio dos personagens da editora concorrente, como o Homem Aranha e o Hulk,e seu sucesso crescente durante a Década de 1970, levaram a DC Comics a repensar sua linha editorial, o que ajudou o Batman a sair da sombra limitativa que o Macartismo impunha aos roteiristas. As histórias do personagem passaram então a ser produzidas pelo roteirista Dennis O'Neil, pelo desenhista Neal Adams e pelo arte-finalista Dick Giordano, trio o qual criou histórias que traziam o personagem e seu mundo de volta ao estilo detetivesco e sombrio original. Na verdade, a dupla lançou a base do bat-universo e das histórias dos personagens, os quais duram até a atualidade. Assim o super-herói seguiu durante a Década de 1970. Data desse período a criação dos vilões Ra's Al GhulTalia al Ghul e Morcego Humano.

Uma questão que foi se consolidando, especialmente desde esta década até a Década de 1980, foi a Continuidade Cronológica, isto é, as histórias e o mundo onde elas ocorrem vão ganhando um grau de realismo e seriedade que é irreversivelmente adicionado e imposto a elas, como, por exemplo, o envelhecimento dos personagens e a sequência histórica de fatos, de modo que os fatos e acontecimentos anteriores fazem parte de uma cronologia lembrada e respeitada (no começo, não se respeitava muito essa questão de lógica e concatenamento cronológico de histórias e acontecimentos ocorridos nelas). Assim, o Robin Dick Grayson, que já havia se tornado adolescente e se distanciado de Batman, agora se tornou adulto, separando-se em definitivo da Dupla Dinâmica, assumindo a identidade de Asa Noturna. Logo os roteiristas decidiram por trazer de volta o personagem Robin, com um novo personagem, Jason Todd. Datam dessa época os vilões Máscara Negra e Crocodilo.

Ainda nos Anos 80 a DC Comics decidiu que iria submeter seus personagens e suas histórias à Continuidade Cronológica, além de pôr termo ao confuso conceito de Multiverso e Terras Paralelas, com suas inúmeras variações dos mesmos personagens, até por considerar que tantos universos paralelos independentes pra que escritores e leitores lembrassem e respeitassem, acabavam por estrangular cada vez mais a liberdade criativa dos escritores. Assim, na maxi-série Crise nas Infinitas Terras, o Batman teve todas as suas múltiplas versões paralelas anteriores abandonadas. Os roteiristas dos personagens, inclusive do Batman, teriam plena liberdade para reescrever totalmente a origem dos personagens, as características do Bat-verso, e aproveitar apenas o que lhes interessasse das histórias existentes até então. Essa situação editorial produziu algumas das melhores histórias em quadrinhos da história, tanto dando uma conclusão às versões anteriores dos personagens, como dando uma nova origem à versão atualizada deles. Assim foram escritas e publicadas histórias como O que aconteceu ao Homem do Amanhã e o clássico O Cavaleiro das Trevas. Escrita por Frank Miller, essa história, a qual descreve uma versão definitiva do caráter, motivações e da importância e significado do Batman. Esta nova fase do morcego é fortemente influenciada pelas histórias do Demolidor, já que Miller tinha trabalhado bastante no personagem antes de escrever O Cavaleiro das Trevas. Na esteira dessa publicação, outras histórias definitivas foram lançadas, como Batman: Ano Um, também de Miller, reescrevendo a origem definitiva do personagem; e, alguns anos depois, A Piada Mortal, de Alan Moore, que conta a história definitiva do Coringa.

Década de 1980 ficou conhecida como Era Plutônio dos Quadrinhos, pois, influenciado pela Continuidade Cronológica, e buscando se aproximar da realidade dos leitores, acabou tornando os roteiros mais violentos e adultos, apresentando em quantidade e qualidade cada vez maior, violência e mortes de personagens. Assim, o Coringa deixou paraplégica a Batgirl original, Bárbara Gordon, em A Piada Mortal, antes de espancar com um pé de cabra o Robin Jason Todd e, por fim, matá-lo com uma explosão na saga Morte em Família. Isto ocorreu porque o segundo Robin, substituto do original Dick Grayson , tinha uma personalidade e estilo diferentes do original, as quais não agradaram boa parte do público de leitores. Assim a DC Comics decidiu dar aos próprios fãs/leitores a oportunidade de escolher se queriam que o parceiro mirim continuasse ou se ele seria morto. Através de votação por telefone, foi escolhida a morte de Jason Todd, com vitória por apenas 72 votos. Nessa época, destacou-se como desenhista das bat-revistas Jim Aparo.

Comemorando os 50 anos da criação do herói em 1989, foi lançado nos cinemas o longa metragem Batman, O Filme, o qual alcançou grande sucesso principalmente graças à atuação memorável de Jack Nicholson como o Coringa.

A partir da Década de 1990 os personagens de quadrinhos americanos, e o Batman entre eles, começaram a passar por mudanças drásticas e acontecimentos dramáticos em suas vidas em uma profusão muito alta. Os personagens DC vinham decaindo em vendas, além de sofrerem com a visão estereotipada de que seus personagens e histórias eram, na prática, uma eterna repetição (O Superman sempre amou Lois Lane desde os anos 40, mas nunca nem namorou ela; o Batman sempre prendia os vilões ao fim da história, mas estes sempre fugiam, e assim se repetia o mesmo ciclo há mais de meio século). Tentando atrair novos leitores e mudar essa imagem, a DC decidiu provocar mudanças drásticas em alguns personagens. Assim, o Lanterna Verde Hal Jordan teve sua cidade (Coast City) destruída. O mesmo ocorreu com a Tropa dos Lanternas Verdes e, por fim, Hal tornou-se um vilão e foi substituído por um outro personagem. O Superman foi simplesmente morto.

Com o Batman, o trio de roteiristas Doug MoenchGraham Nolan e Alan Grant, capitaneados pelo agora editor Dennis O'Neil, criaram a longuíssima saga A Queda do Morcego, a qual durou praticamente dois anos. Nela, Bruce Wayne passou a sofrer com Estresse. Foi criado o vilão Bane, o qual, explorando este momento, deixou o herói paraplégico. O super-herói Batman foi substituído por Jean Paul Valley, que modificou totalmente o uniforme clássico, foi extremamente violento e, por fim, permitiu a morte de um vilão. Ao fim, Bruce Wayne, curado, tomou de volta o capuz do morcego.

O Herói tornou-se o mais rentável da editora, sendo produzidos filmes milionários estrelados por ele, ao mesmo tempo em que era o líder de vendas entre a revistas. Personagens coadjuvantes como RobinMulher Gato e Azrael ganharam revistas próprias. E nos quadrinhos Coringa ganhou até uma namorada: Arlequina (Dra. Harleen Quinzel). Um fato histórico foi o crossover DC versus Marvel/Marvel vs DC, o sonhado e aguardado por décadas encontro e confronto entre os maiores super-heróis da DC Comics e da Marvel Comics. Nele Batman enfrentou e, graças a uma votação direta dos fãs, derrotou o Capitão América.

O personagem passou por variadas mudanças nos anos seguintes, com heróis clássicos passando por substituições temporárias, como o próprio Batman, Robin, Batgirl e até o Comissário de Polícia de Gotham. Entre várias maxi séries, destaque para Batman: ContágioBatman: A Vingança do Demônio e Batman: Terremoto que mostraram a destruição de Gotham City após pestes de Virus Ebola, e um Sismo avassalador, culminando na saga Batman: Terra de Ninguém, quando Gotham, destruída, é apartada do resto dos Estados Unidos, caindo em um estado de caos social, guerra de gangues e guerra de sobrevivência.

O super-herói sempre estreou muitas histórias paralelas à cronografia mensal oficial, desde histórias da série Batman: Túnel do Tempo, onde ele era imaginado em outras épocas e situações; assim como em histórias mais adultas, de temáticas mais pesadas, com no título Um Conto de Batman. Entre tantas histórias não necessariamente oficiais, destacou-se o trabalho de Jeph Loeb e Tim Sale que produziram , entre outras, Batman: Dia das BruxasBatman: Vitória Sombria e a aclamada por critica e público leitor Batman: O Longo Dia das Bruxas, que conta a origem definitiva do vilão Duas Caras.

Na década de 2000 o destaque foi o desenhista Jim Lee tendo assumido o lápis das histórias do personagem. Outro grande destaque foi quando o roteirista Grant Morrison assumiu as histórias do "Dono da Noite", trazendo de volta características antigas abandonadas do personagem, como seu filho Damian Wayne e uma comunidade de "Batmen" espalhados por outros países. Grant, por fim, escreveu as maxi séries Batman R.I.P. e Crise Final, que trazem a morte de Bruce Wayne. Na verdade, desde que o parceiro infantil surgiu na Década de 1940, era esperado e imaginado o dia em que o eterno primeiro Robin, Dick Grayson, assumiria em definitivo sua herança e destino como Batman. Mais tarde, Bruce foi "ressuscitado". Entre os vilões surgidos nessa época, destacou-se Silêncio.

Na Década de 2010, a DC Comics faz um novo "reboot", a fase Os Novos 52, com os mesmos objetivos de Crise nas Infinitas Terras, quais sejam, atualizar personagens e atrair leitores. Assim Batman teve sua origem e história novamente reescrita e atualizada.[carece de fontes] Nessa década, Scott Snyder foi apontado como roteirista, James Tynion IV como co-roteirista e Greg Capullo como desenhista. Esse time permaneceu por todo o título, que teve sua contagem reiniciada e durou 50 edições, dos anos de 2011 até 2016. Nessa nova série, a origem do Batman foi parcialmente reescrita para ser readaptada aos tempos atuais, mas grande parte dos elementos primordiais da sua origem e de sua personalidade foram mantidos. Essa série apresentou a Corte das Corujas, uma sociedade secreta de Gotham City que governava secretamente a cidade desde o século XIX. Essa série foi um sucesso de vendas e crítica, foi cancelada com o início do Renascimento DC. Em 2016, a contagem foi novamente reiniciada (apesar da continuidade se manter a mesma), dessa vez com Tom King no roteiro e uma variedade de artistas como David FinchClay MannJoëlle Jones e Mikel Jánin. Essa nova série se centrava no emocional de Bruce Wayne e enfrentava assuntos sérios como depressão, a série teve histórias notórias pelo seu forte conteúdo emotivo, confrontando a relação entre o Batman e Bruce Wayne e sua relação com a cidade de Gotham em si. A série ganhou grande atenção pelo casamento entre o Batman e a Mulher-Gato (que não chegou à acontecer) mas foi o principal tema da série por um ano. Em 2018, o selo Renascimento deixou de existir, mas a contagem de volumes continuou a mesma e até o presente momento, King ainda é o principal roteirista. Em 2019, foi anunciado que Batman #85 seria a última edição escrita por King e que o mesmo seria substituído por James Tynion IV, que foi Co-roteirista da revista junto com Scott Snyder nos Novos 52 e trabalhou como roteirista de Detective Comics do selo Renascimento.

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